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Leia o artigo nesse link: Artigo 1
Transcrição do vídeo:
Olá pessoal, para quem não me conhece ainda eu sou Dulce Simões do Inspirando Dentistas e já faço vídeos semanais com algumas dicas e sacadas clínicas para facilitar a vida de vocês. Acredito que ter conhecimento é muito importante para que a gente consiga trabalhar bem e de forma segura, fazendo o que devemos fazer como profissionais de saúde que somos. Primeiro prevenindo, depois tratando e, por fim, preservando a saúde. Devolvendo assim a harmonia do sistema.
Pois bem, sei que não é fácil ter acesso às pesquisas e ler quando a gente trabalha o dia inteiro. E foi pensando nisso que resolvi como uma grande novidade para esse ano de 2017, passar toda semana para vocês o resumo de um artigo científico.
Vou tentar cumprir isso, um artigo por semana. Vamos falar sobre essa pesquisa e comentar qual a importância clínica dessa pesquisa, pois ter conhecimento é importante claro, mas saber o que fazer com esse conhecimento é a chave da questão. Então fazendo uma analogia, saber que tomate é uma fruta é conhecimento, mas vamos combinar, nós não vamos colocar tomate em uma salada de frutas, não é pessoal?
Então vamos gravar essa informações em forma de vídeo, e podcasts para que você possa escutar onde estiver, no carro, no trabalho, na caminhada, onde você desejar.E para começar essa série eu trouxe hoje um artigo que foi publicado agora em 2016 no Dental Material Journal sobre o efeito do fator C na resistência adesiva da resina composta as paredes das cavidades, tanto as paredes laterais quanto as paredes de fundo, ou seja o assoalho dessas cavidades.
Primeiro vamos explicar, pra quem não sabe, o que é fator C e qual a importância clinica desse fator nas nossas restaurações. Todos nós sabemos que a resina composta ela sofre durante a sua polimerização uma contração volumétrica e essa contração gera um estresse dentro da massa de resina composta. Essa contração e esse estresse além de outros fatores, pode gerar gaps ou fendas entre as superfícies da resina e as superfícies das cavidades. Pois bem, o Fator C o conceito desse fator é o número de superfícies da resina que estão aderidas as paredes cavitárias sobre o numero de superfícies livres dessa resina, e quanto maior for esse fator mais estresse vai ser gerado nessa massa de resina, porque essa massa de resina precisa estar livre para relaxar desse estresse.
Então em uma aparente inofensiva cavidade de classe I, aquela cavidade que você faz na face oclusal de um dente e que acha que está tudo certo pois é fácil de restaurar é a cavidade junto com a cavidade de classe V de pior fator C pois se você insere a sua resina de forma horizontal você cola sua massa a 5 paredes, as 4 circundantes e a mais 1 de fundo, e deixa só a superfície externa, ou seja 5/1 = 5. Altíssimo fator C. O que isso significa? Grande estresse nessa região, e aí você pergunta por que estou tendo tanta sensibilidade pós operatória? Ta cuidando desse aspecto? Ta ligado nisso? Se não estava, comece a prestar atenção.
Além disso muitos trabalhos vem mostrando que a força de união, a adesão, a dentina ela vai diminuindo a medida que a cavidade vai ficando mais profunda, chegando muitas vezes a ser de 30 a 40% menor do que na dentina periférica. Então nesse trabalho os pesquisadores foram avaliar a força de união nas paredes circundantes das cavidades em comparação com as paredes de fundo, e se essas uniões são afetadas pelo Fator C.
Pois bem, nesse estudo foram usados 32 dentes, molares extraídos e intactos, em 4 grupos, o que tinha um número de 8 amostras para cada grupo. E testaram essa força de união em superfícies planas, de fundo e circundantes, e caixas, como na nossa classe I ou V, também paredes de fundo e circundantes. Foram usados dois sistemas adesivos da Kuraray, o Clearfil SE bond e o Clearfill Tri S bond, que são adesivos auto-condicionantes da mesma empresa, só que o clear fill SE é autocondicionantes de dois passos e o clearfil tri S bond é de um passo único. Não vou entrar em detalhes sobre a metodologia, quem quiser pode ler o artigo na íntegra, vai estar em um PDF no nosso blog.
Então vamos conversar sobre os resultados e que dicas podemos tirar para o nosso dia a dia.A primeira coisa que podemos observar nessa tabela aqui é que em todas as situações o clearfill Tri S bond se mostrou pior que o ClearFill SE bond. Os autores dizem na sua discussão, justificando esse resultado que Os adesivos auto-condicionantes de passo único são mais hidrofílicos e absorvem mais água que os auto-condicionantes de dois passos. Evaporar essa água dos sistemas de passo único é mais difícil e mesmo que se consiga retirá-la mais água vai chegar da própria polpa. essa absorção de água plastifica o material, o adesivo e aumenta sua solubilidade, diminuindo o modulo de elasticidade e as suas propriedades mecânicas. resumindo piora tudo.
Uma outra coisa que também foi mostrado nesse estudo é que a adesão é maior nas paredes laterais do que nas paredes de fundo, no caso das superfícies planas o que mostra que o mais importante na formação da camada híbrida não é a sua espessura, mas as propriedades da dentina, a quantidade de dentina intertubular encontrada. Essa adesão é maior em túbulos paralelos, que é o que acontece nas paredes laterais do que em túbulos perpendiculares, como nas paredes de fundo. Nos túbulos paralelos a camada híbrida é mais delgada, assim não importa a espessura dessa camada, sendo aqui nesse estudo mostrado que vale mais a disposição desses túbulos dentinários.
Outro fato importante é que ambos os adesivos mostraram uma força de união menor nas amostras feitas em cavidades do que nas amostras de áreas planas isso significa o que clinicamente? Significa que O Fator C é importante independente do sistema adesivo que você esteja empregando. Assim, cuidado com esse estresse gerado.
Um outro ponto tocado nesse artigo é quanto a importância da espessura do seu sistema adesivo à espessura da camada. O Clear fill SE foi capaz de sofrer menos influência desse Fator C que o Clearfill Tri S, isso porque o Clearfill SE tem uma espessura maior em torno de 40 a 200 micrômetros e tendo essa espessura maior é capaz de absorver melhor parte desse estresse gerado durante a contração de polimerização.Então para finalizar, para fechar esse artigo de hoje quais os pontos importantes para levarmos para nossa clinica?
Ponto 1, aqui como em outros trabalhos os sistemas adesivos autocondicionantes de dois passos são melhores que os autocondicionantes de 2 passos.
Ponto 2, Cuidado com o estresse gerado durante a polimerização, diminuam o Fator C existem várias maneiras para diminuir esse fator C.
Ponto 3, sistemas adesivos que apresentam uma espessura maior conseguem minimizar esse estresse gerado.
E finalmente, o ponto 4, a adesão é mais eficiente nas paredes laterais que nas paredes de fundo.
Se hoje nossa odontologia é adesiva, temos que fazê-la da melhor maneira possível. Vamos falar muito ainda sobre esse assunto pois a quantidade de pesquisas é enorme. Espero que vocês tenham gostado, comentem, perguntem, sugiram novos temas e vamos compartilhar esses conhecimentos. Aguardo vocês na próxima semana um beijo grande e até lá.