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Ao fazer, no consultório, a rotineira pergunta “minha jovem, o que a trás por aqui?”, escuto a seguinte resposta: “estou aqui para trocar os trabalhos feitos há dez anos”. Mando a segunda: “por que, o que aconteceu?”. A resposta foi simples e rápida, explicou que sempre trocava a cada cinco anos pois o seu antigo dentista dizia que era necessário. Assim se passaram 10 anos, ela já estava bastante atrasada, e se desculpava por isso… Questionava sobre uma leve retração gengival, que deixava aparecer o escuro das raízes e o quanto isso comprometia a estética do seu sorriso. Depois de examinar e fotografar as quatro metalocerâmicas observei a saúde gengival. Fiquei encantada pelo que vi e ao dizer a ela que nada deveria ser feito pois além de tudo possuía um sorriso baixo, que não permitia visualizar as pequenas retrações, vi dois olhinhos arregalados e espantados me encarando! Como assim não precisa trocar?
Vou ser sincera, diante de tal espanto, até questionei minha decisão. É muito fácil decidir trocar um trabalho quando ele se apresenta comprovadamente fracassado, quer seja por fratura, infiltração, falta de contorno e/ou contato. Existem profissionais que trocam com bastante facilidade, apenas por estarem, no caso dos posteriores, com um certo desgaste ou com pequenas alterações de cor. Às vezes trocam seis por meia dúzia. É claro, que cada um tem seu jeito de trabalhar, mas não podemos esquecer que a cada troca vai um pouco mais de tecido dentário sadio. Sou bastante conservadora nesse e em muitos outros aspectos, e as vezes os pacientes me questionam sobre a necessidade de trocar tudo para ficarem novos, ou porque ouviram dizer que as restaurações tem um tempo pequeno de vida.
Fico me questionando o que faz o profissional tomar essa decisão. Será a certeza de que farão melhores trabalhos? Será que na dúvida preferem pecar pelo excesso de zelo? Será que desejam experimentar um nova técnica ou material? Ou será que decidem pela dobradinha falta de ética/desejo financeiro? Muitas coisas devem ser levadas em consideração para se tomar essa decisão, dentre elas, condições bucais, freqüência com que o paciente vai ao dentista, contorno, contato, saúde gengival, linha do sorriso, condições estéticas (região anterior), e tantos outros aspectos pertinentes a situação.
Apesar de estarmos vivendo um momento de loucura pela estética e pela perfeição, mesmo quando se chega ao absurdo de buscar essa estética na oclusal dos terceiros molares superiores, precisamos nos lembrar que somos, antes de tudo, profissionais de saúde, e que se os nossos dois maiores juízes, a polpa e os tecidos periodontais nos indicam normalidade, quem somos nós para desconfiarmos dessa informação? Vamos com calma pessoal. Vamos trocar menos e acompanhar mais. Tenham certeza, vocês nunca estarão perdendo, mas sempre ganhando.