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Fim de período. Alguns alunos reprovados e eu aqui pensando o porquê dessas reprovações. Vendo os nomes me dei conta de que são exatamente alunos, com raríssimas exceções, que não gostam do curso que fazem. Como assim não gostam? Isso mesmo. Existem alguns alunos que desde o início observamos seu desinteresse, sua falta de vontade e total apatia. Estão sempre longe, atrasados, inventando desculpas e por aí vai. Aqueles que todos os professores, quando se juntam, comentam e perguntam uns aos outros se “fulano” é assim mesmo. Bingo, unanimidade. Existem os que são desinteressados por algumas disciplinas mas bem interessados em outras. Não estou falando desses, mas dos 100% desinteressados. Depois de algum tempo resolvemos chamar a pessoa e perguntar o que está acontecendo. Quando responde “professora, na verdade não gosto de Odontologia, queria fazer o curso tal, mas meus pais querem que eu seja doutor”, fico atônita e sem palavras. E olhe que ficar sem palavras é coisa difícil para mim… A princípio, um alívio, o problema não são os professores ou o curso. A seguir, a emoção se transforma em um sentimento de pena. Pena de uma criatura que tem que levantar todos os dias, por pelo menos 5 longos anos, para ouvir o que não quer, e fazer o que não gosta. Pena desses pais que não estão verdadeiramente preocupados com a felicidade dos seus filhos, mas com o status, que eles pensam que terão, ao ter um filho doutor. Socorro, estamos no século 21 mesmo? É bem difícil escolher uma profissão aos 16 ou 17 anos. Existem aqueles, que como eu, não sabiam o que desejavam. A princípio queria fazer letras ou jornalismo, depois fiz um teste vocacional que deu economia e administração, sai de casa para me inscrever no vestibular de arquitetura e voltei inscrita em odontologia. Verdadeiramente o samba do criolo doido. Ainda bem que deu certo. Mas, existem aqueles que sabem exatamente o que desejam ser, ou pelo menos sabem que não querem ser dentistas. E, como se dizia antigamente, mas que vale sempre “sem tesão não há solução”. A vontade que tenho é de dizer “amiguinho”, pois é assim que chamo meus alunos, saia já daqui e vá fazer o que deseja. Rebele-se pois essa é uma causa justa, é a sua vida, e você poderia ser um grande músico, artista, físico, professor, jornalista ou qualquer outra coisa, mas será apenas, se for, um dentista medíocre. E passará o resto da vida tendo que acordar e passar a maior parte do seu tempo enfrentando uma profissão que não escolheu apenas para agradar a outras pessoas. Não entendo esses pais. Será que eles não enxergam a infelicidade e a dificuldade que seus filhos estão enfrentando? Ou vêem mas fazem de conta que não vêem para não escutarem aquilo que no fundo já sabem?… E assim, vão se arrastando, cheios de dificuldades, repetindo matérias, ficando cada vez mais frustados e nos dando cada vez mais trabalho. Precisamos ensinar um ofício a quem não quer aprender… Mas quem disse que ser professor seria fácil?